“Topa? Um educador em busca do não feito: ainda”, a resenha de um livro-convite à (re)invenção da educação

Desde a capa até o fechamento, "Topa? Um educador em busca do não feito: ainda" já se apresenta como um convite, uma provocação, àqueles que desejam repensar a educação. Escrito por Tião Rocha, educador, antropólogo e folclorista, o livro reúne memórias, reflexões e prática de mais de quatro décadas no Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD).

Tássita Moreira

9/25/20253 min read

Minhas primeiras impressões são extremamente positivas: “sensacional” é pouco para expressar como o livro dialoga com minha própria forma de comunicar e pensar uma educação descolonizada. Ele costura com elegância teoria e prática, a práxis, sempre enfatizando o aprender ao invés de simplesmente ensinar. Essa ênfase é um diferencial forte em meio a discursos educativos que ainda valorizam o ensinar como ato unidirecional.

Quem faz a obra?

Tião Rocha nasceu em Belo Horizonte, é historiador de formação, mas sua trajetória é marcada pelas transversas entre antropologia, cultura popular e educação. Ele fundou o CPCD em 1984, instituição que atua com educação popular e desenvolvimento comunitário por meio da cultura.

No prefácio e nas primeiras páginas, já temos a tônica de seu posicionamento: um educador que não se restringe ao espaço escolar, que entende que educar acontece em múltiplos lugares, em múltiplas situações e sujeitos.

O livro tem 240 páginas e foi publicado pela Editora Peirópolis em 2025. Ele se apresenta em linguagem relativamente acessível, “quase jornalística”, não esperando do leitor um vocabulário excessivamente acadêmico, mas sim um interlocutor interessado no gesto educativo.

O que tem no livro “Topa?”

Embora o livro não esteja organizado como um manual teórico rígido, ele coleciona “ensaios de vida e pensamento”, como relatos de experiência, episódios de trabalho comunitário, desafios e embates, e vai articulando princípios educativos ao longo dessas narrativas.

Alguns pontos que se destacam:

  • A ênfase no aprender: Tião Rocha não vê o ato educativo como mera transmissão, mas como um caminho que exige escuta, humildade e disposição de quem ensina para ser também aprendiz.

  • Integração entre teoria e prática: o autor não separa visões teóricas de suas vivências, constantemente, ele retorna aos acertos e erros de campo para iluminar conceitos.

  • “Fazer o não feito”: esta expressão, que dá nome ao livro, funciona como um mote provocativo. Trata-se da ousadia de empreender aquilo que ainda não foi tentado, de romper com práticas já consolidadas, de imaginar alternativas.

  • Educação além da escola: Tião defende que o espaço escolar não esgota o educativo; a cultura, os territórios, as comunidades são palco de aprendizagem e potencial de transformação.

  • Corpo humano da narrativa: o livro não é seco; ele carrega afetos, insistências, impasses, dúvidas, aquilo que torna a experiência educativa real. Isso aproxima o leitor do autor como sujeito educativo, não como uma voz distante.

“Topa?” na vida de educadores decoloniais

O que faz Topa? se destacar, para mim, é justamente este balanço entre o pulsar da experiência e a provocação intelectual. Ele reafirma valores que muitos de nós já defendemos, a centralidade do aprender, da escuta, da cultura, da curiosidade, e os encarna em trajetórias concretas, com acertos e tropeços.

É um livro para quem deseja se inspirar (e às vezes sacudir) sobre o que é ser educador no mundo real, longe de manuais idealizados. E reafirma algo essencial: que educar é um verbo ativo, criativo, muitas vezes desconfortável e que só se sustenta se mantivermos disposição para reinventar.

Para refletir

Topa? Um educador em busca do não feito: ainda é uma leitura que provoca, comove e inspira. Ele dialoga a fundo com nossas inquietações sobre educação descolonizada e mostra que a ousadia de “topar o não feito” tem força transformadora, ainda que imperfeita. Se você é educador, pesquisador, agente comunitário ou alguém interessado em educação com alma, este livro merece atenção, discussão e ação.